sábado, 26 de novembro de 2011

Gotículas

Pelo amor que tenho a literatura é que dedico a todos os amantes do conhecimento estes 8 microcontos:

     
      O piano está mudo, o músico morreu.
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      A hamadríade definhou de solidão.
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      Vejo Darwin com seus tentilhões numa gaiola de estanho.
      – Que pássaros distintos! – digo eu.
      – São irmãos. – diz ele.
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      Ela é a esfinge faminta de beleza, lilás de vaidade e cheia de egoísmo.
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      Na manhã, a moça acorda e lê a carta deixada pelo amante, onde estava escrito:
      – Eu te amo. Adeus.
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      Ao anoitecer, o vestido branco é tranquilo e o preto, misterioso.
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      Hoje houve aula de Matemática. Que tédio!
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      Cachoeira vigorosa. Martelo vigoroso. Bailarina verde floresta tão contrastante a rústica metalúrgica.






Francisco Getúlio Sousa da Silva

A CURIOSIDADE humana vai à Marte


Direi a NASA que é coisa rasa
mandar ao espaço um bicho de aço,
que vá à Marte buscar vida.

Direi a NASA que se esqueça
dos mortos planetas
e olhe com seus enormes telescópios
para nossa casa, nossa Terra,
onde há vida tão viva e boa,
como não existe eu confesso,
em nenhum outro lugar do Universo.
 
Direi a NASA que é coisa rasa
mandar ao espaço um bicho de aço
de caro e humano nome,
cujo preço poderia aplacar
tanta FOME.





Francisco Getúlio Sousa da Silva

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Emily Dickinson

 I'm nobody! Who are you?
       Emily Dickinson

 I'm nobody! Who are you?
 Are you nobody, too?
Then there's a pair of us -- don't tell!
They'd advertise -- you know!

How dreary to be somebody!
How public like a frog
To tell one's name -- the livelong day
To an admiring bog!




 
Eu sou ninguém! Quem és tu?      

Eu sou ninguém! Quem és tu?
Tu és ninguém, também?
Então há um par de nós - não diga!
Eles anunciam - tu sabes!

Como é triste ser alguém!
De qual maneira público como um sapo
Para contar o próprio nome - o durável dia
Admirando um pântano!





Tradução: Francisco Getúlio Sousa

Morte e Vida Severina


       Da vasta obra de João Cabral de melo Neto, a mais conhecida é sem dúvida, Morte e Vida Severina, o auto de natal pernambucano, de caráter dramático e medievalizante lembrando os autos ibéricos, que consiste num positivo uso de uma linguagem métrica e trabalhada, que alude o sofrimento enfrentado pela personagem.
      Na obra, o autor trabalha o contínuo conflito entre a vida e a morte analisando diversas cenas do cotidiano nordestino, sempre figurado no protagonista Severino, que em sua trajetória retirante sai do agreste até Recife, num caminho cru onde ele vê constantemente a presença da morte, no sepultamento, no velório e no enterro dos severinos, que vivem e trabalham arduamente para a morte social, agrária e humana, numa realidade problemática, em que o severino é o adjetivo da miséria e opressão sócio-políticas.
      Entretanto, na hora do nascimento da criança mostrando no poema se destaca a oposição da morte que é a vida, que nasce no meio da pobreza, sujeira e tristeza, e exatamente, por isso torna-se tão importante e vitoriosa, pois conseguiu derrotar os frutos da morte com otimismo, embelezando tudo que a cerca com alegria humana e viva.
      Em suma, a poesia de João Cabral de Melo Neto pode ser caracterizada como marmórea e pétrea figurativa e vigorosa, sua riqueza está na crueza aguda do verso, que como uma lâmina fede a conotação do leitor e o misticismo do lírico. Sua poética é uma orquestra muda, uma Coluna de Trajano, enérgica e forte, como o ácido sulfúrico.



Francisco Getúlio Sousa
XI

Tac tac tac tac tac tac

alma penada
carruagem do além

tac tac tac tac tac tac

turbilhão funesto
a desembestar nas ruas

tac tac tac tac tac tac

estala o chicote
relincham os cavalos sem cabeça

estala o chicote
berra o condutor sem cabeça

dentro da diligencia
vai Dona Ana Jansen
bruxa maligna assassina

e torturada algoz de tantos escravos

agora na morte
é uma escrava

Ana Jansen
má como o próprio demônio

quando morreu
deus não lhe deu salvação
a mandou ao inferno
e o Diabo disse não

alma perdida
alma cruel
nem foi ao inferno nem ao céu

correndo para sempre
no comboio desgraçado
que  a carrega como serpente
como espírito condenado

Tac tac tac tac tac tac


                                    Curupira. Francisco Getúlio Sousa.


sábado, 5 de novembro de 2011



Nada bonito







N
o  país das maravilhas
de ninguém,
estão invisíveis
os chamados belos.

Oh, pobre desgraçado,
tens à beleza
que eu tanto almejo.
Entretanto, és apenas belo,
bela imagem,
bela figura estética,
belo garoto,
bela menina,
laranja da China.

Ninguém o reconhece
pelo seu caráter,
sua personalidade, seu valor,
as pessoas só reconhecem
e dão atenção
a beleza exterior,
que ofusca suas qualidades,
pois de que vale a ética,
se tens a estética.

Isto torna você
num belo anônimo,
visto, amado, desejado
por todos e por ninguém,
pois poucos
estão dispostos
à olhar o interior,
à olhar além do material.

Para que olhar
íntimos sentimentos bobos,
se o que tem por fora
é belo e fascinante?

Tristeza, quanta tristeza,
para vós que tens tanta beleza,
pois é como todo favor,
sem puro amor,
que vos digo:
“ Que a beleza não tem realmente valor,
pois os meus olhos que ti glorificam,
são os mesmos olhos
que ti ignoram.”



Francisco Getúlio Sousa