quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Morte e Vida Severina


       Da vasta obra de João Cabral de melo Neto, a mais conhecida é sem dúvida, Morte e Vida Severina, o auto de natal pernambucano, de caráter dramático e medievalizante lembrando os autos ibéricos, que consiste num positivo uso de uma linguagem métrica e trabalhada, que alude o sofrimento enfrentado pela personagem.
      Na obra, o autor trabalha o contínuo conflito entre a vida e a morte analisando diversas cenas do cotidiano nordestino, sempre figurado no protagonista Severino, que em sua trajetória retirante sai do agreste até Recife, num caminho cru onde ele vê constantemente a presença da morte, no sepultamento, no velório e no enterro dos severinos, que vivem e trabalham arduamente para a morte social, agrária e humana, numa realidade problemática, em que o severino é o adjetivo da miséria e opressão sócio-políticas.
      Entretanto, na hora do nascimento da criança mostrando no poema se destaca a oposição da morte que é a vida, que nasce no meio da pobreza, sujeira e tristeza, e exatamente, por isso torna-se tão importante e vitoriosa, pois conseguiu derrotar os frutos da morte com otimismo, embelezando tudo que a cerca com alegria humana e viva.
      Em suma, a poesia de João Cabral de Melo Neto pode ser caracterizada como marmórea e pétrea figurativa e vigorosa, sua riqueza está na crueza aguda do verso, que como uma lâmina fede a conotação do leitor e o misticismo do lírico. Sua poética é uma orquestra muda, uma Coluna de Trajano, enérgica e forte, como o ácido sulfúrico.



Francisco Getúlio Sousa

Nenhum comentário:

Postar um comentário